segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Hangar

Hangar


Durante anos a fio o segmento turístico (chamado de trade, pelos esnobes) reclamou da urgente necessidade de ter o Pará um centro de convenções, que, segundo eles, conjuntamente com a remodelação do aeroporto de Belém, permitiria o desenvolvimento do setor.

Finalmente, o Hangar foi feito, o aeroporto foi reconstruído, e, tudo moderno, do jeito que foi pedido, apresentado para uso do segmento.

O que se vê, entretanto, é outra coisa.

O Hangar, que deveria ser uma ferramenta para trazer dinheiro de fora do Estado, está transformado numa ferramenta para mandar dinheiro para fora, porque é para isso que servem os shows das bandas e artistas que vêm a Belém. É o grande salão de festas da cidade, mantido e havido pelo poder público, cuja maior parte da receita declarada provém do bolso da população local.

Além disso, a administração é tudo o que há de relapso e inconseqüente, para ser tolerante. No último caça-níqueis que ocorreu ali, no último final de semana, foram usadas carteiras de escola, usadas para cursos, como cadeiras de platéias, sem lugares numerados. A maquininha do estacionamento não funcionou, mais uma vez, e o controle manual provocou um irritado engarrafamento na saída, porque também não funcionou. Permite-se a entrada de bebidas e comidas, tal como num estádio de futebol, e o resultado é o de sempre.

Mas o Hangar foi anunciado e construído, e o trade não se mexeu para ir disputar as convenções, que constituem um mercado altamente competitivo. Inaugurado o Hangar, com o trade paralisado, caberia ao Governo, que o administra, liderar a campanha de captações. Mas para a demagogia instalada, é melhor ter uma casa de shows do que um centro de convenções, e aí está. Mais dia, menos dia, o Hangar terá o mesmo destino do primeiro Centro de Convenções, o Centur: sediará alguma Secretaria de Estado, que a burocracia é ávida de espaços amplos que possa atulhar de papel...

Existe uma certa categoria de políticos para quem o desenvolvimento, a melhoria das condições de vida e a conquista de patamares novos de riqueza são resultados de loteria, ou de milagres divinos. Ou então, simples apropriação do trabalho alheio, baseada na esperteza sem remorsos. Conta a lenda que um desses políticos disse que iria transformar a Estação das Docas no maior bordel do Brasil (a palavra “bordel” está substituída, aqui, porque o termo foi mais pesado). Talvez o Hangar acabe sendo mais apropriado: geralmente é o que acontece com o entorno de uma casa de shows.

Esses políticos não suspeitam que, para conseguir o que se conseguiu no Pará, foi necessário trabalho duro, em níveis técnico e político; negociações exaustivas neste último (para compor as enormes dívidas geradas nos governos Jáder Barbalho/Carlos Santos), e trabalho com hora para começar mas sem hora para acabar, no primeiro. Milhares de pessoas, a maioria delas funcionários públicos de carreira, se empenharam para conseguir resultados, e conseguiram, em todos os setores de governo. O que está sendo feito com o Hangar é um desrespeito com essas pessoas, tenham ou não nomes altissonantes, chamem-se João da Silva ou Paulo Chaves.

A destruição do Hangar pode ser o prelúdio para a destruição da enorme construção realizada, de um Estado do Pará digno, pontual nos pagamentos e em franco crescimento econômico, que conseguiu começar a transformar em riqueza seu enorme potencial. A incompetência em, pelo menos, manter o que foi feito, demonstra a incompetência maior, de realizar. E, nos governos, não existe estado estacionário: parar é recuar, porque a sociedade não espera.

Nenhum comentário: