domingo, 8 de março de 2015

Que moral, hem!


O deputado Edmilson Rodrigues vai ser processado por quebra de decoro parlamentar porque ousou, ousou! – chamar de moleque o eminente peemedebista... como é mesmo o nome dele? Esqueci, que delito horrível! – no aceso de uma discussão. Edmilson, um nortista, está sendo acusado de “preconceito contra nordestinos”.

E o eminente peemedebista Renan Calheiros, presidente do Senado, está sendo acusado de corrupção da grossa, mas, para o PMDB, não há, aí, quebra de decoro. Nem sequer desconforto!

“Mexa-se, mexa-se!”, cantou uma vez o menestrel Juca Chaves. “Mas nunca tão depressa! Quem tem pressa come cru!”.

Parece que o PMDB não ouviu essa cantiga, ou se ouviu, esqueceu. Apresentou-se em rede nacional não como governista, não como aliado do governo, como seria o correto, mas como o próprio governo. Alinhou ministros e promessas, arrotou grandezas morais e uma competência feita de escolhas e bem poucas realizações. Precipitou-se, o PMDB: embora tenha abocanhado uma bela fatia da administração federal, ele não manda nela. Suas escolhas estão subordinadas à presidente que, apesar de ter ganho uma eleição de forma mentirosa, e por pequena margem, é legítima.

Já tivemos presidentes do PMDB. Dois presidentes-viúvos, que assumiram porque a cabeça do casal foi decapitada. Quer ter, agora, um terceiro presidente-viúvo, porque só assim, meio que na sombra, é que chega lá. Mas de José Sarney lembramos a inflação estratosférica que nos conduziu para o Collor, com Itamar na vice. Collor decapitado, passamos para outro governo do PMDB. Itamar não acreditava no plano real (pelo menos é o que consta do livro da Míriam Leitão, que Itamar nunca contestou), permitiu seu lançamento porque não tinha alternativa. Depois se opôs radicalmente ao seu sucessor, Fernando Henrique, o ministro do real.

Em todos estes anos de democracia plena, vários partidos apresentaram projetos consistentes: PSDB, PT, PPS, PCdoB, Dem, PDT. São projetos divergentes entre si, baseados em ideologias diversas, até contrárias, e utopias diferentes. Mas são partidos que têm perfil, sabe-se o que esperar deles. Quanto ao PMDB, como o partido deixou claro no programa em que se apresentou como governo, faz escolhas: ora, quem escolhe, escolhe o já feito, não cria nem constrói nada de novo. Limita-se ao que está ao alcance da mão. Ideias, propostas, e, como vemos agora, dutos de dinheiro clandestino.

Pensando bem, talvez isso seja uma ideologia, a ideologia do líquido que toma forma do recipiente que o contém. Se for assim, é uma ideologia que se evapora quando sob o aquecimento das tensões. E, mesmo contando com a força do vapor, basta instalar uma válvula, de preço, aliás, bem variável, para ser controlada.

E talvez explique porque não se exija decoro de um senador publicamente acusado de praticar diversos crimes contra o erário público (e mais um, contra a inteligência e a boa-fé dos brasileiros), mas se queira enquadrar o deputado do pequeno PSOL porque talvez tenha se excedido no discurso. Digo – talvez – porque é bem possível que o deputado Edmilson Rodrigues tenha simplesmente falado a verdade. E o deputado X (não há jeito de eu me lembrar do nome dele!) seja mesmo um moleque.

É, talvez o padrão ético do PMDB explique essa contradição. E, sinceramente, não sei se um presidente do PMDB será melhor que uma presidente do PT.

A lista de Janot e a decisão de divulgá-la, tomada por Teori Zavaski (quem quiser que acredite que o Planalto não agiu nessas decisões) demonstram que Dilma está longe de entregar os pontos. Se ela conseguir afastar Renan ou Cunha da presidência de uma das casas do Congresso, enfraquecerá o PMDB o suficiente para retomar a governabilidade ameaçada. Mesmo com as manifestações de rua e a incômoda verborragia do ex-presidente Lula (que até agora não se conformou de ser apenas um ex). Mesmo com o terrorismo virtual instalado pela extrema direita e por um sem número de cidadãos assustados ou que se divertem espalhando medo (só para dar uma ideia do que está acontecendo nas redes sociais, dia destes recebi dois áudios ressuscitados de 1963!). Mesmo com uma recessão em andamento.

Só que ela tem que ser rápida: falta uma semana para o 15 de março e existe, graças a Lula, risco real de confrontação nas ruas.