terça-feira, 3 de junho de 2008

Tempo de cruzada

Lula compra mais dois aviões e decide que tem a solução para os problemas do mundo. Sua equipe aproveita: desenha a cruzada do etanol, para consumo interno, naturalmente, que lá fora os senhores do mundo se limitam a recebê-lo educadamente, de olho no quintal que mais rende dinheiro para quem já tem, e marcar a próxima conferência.

Celso Amorim reforça a cruzada marqueteira, afirmando que ninguém pode ensinar o Lula a combater a fome. Tem razão duas vezes: primeiro, porque ninguém pode ensinar nada ao Lula, visto que o aprendizado é uma decisão do aluno. Segundo, porque Lula soube como ninguém matar a própria fome de poder – e, pelo que se diz, sua família está em condições de passar a caviar até à quinta geração.

Isto é a mão direita, e Lula é religioso: como diz a Bíblia que a mão direita não deve saber o que faz a esquerda, a outra mão de Lula desenha uma Previdência literalmente nivelada por baixo, pelo mínimo, e acena generosamente para os bancos e seus planos. Estes, gratíssimos, dão nota 10 para o Brasil: no mundo inteiro, em todo o mundo, nenhum banco ganha tanto dinheiro e tem tanta folga de controle. Afinal de contas, quando um banco brasileiro está prestes a falir, o banco central paga, o dono vai para a Europa e some, ou então fica desfilando por aí, respondendo a processos intermináveis até que morra ou passe da idade de ser preso.

Os xeques árabes devem babar de inveja: o Corão proíbe juros, ou melhor, proíbe a manipulação do dinheiro. Eles têm que usar artifícios para ter rendimentos de capital, ou jogar o dinheiro nas bolsas infiéis. Recentemente, num desses emirados, o xeque foi despachado para casa, devidamente desafortunado, porque cometeu crimes semelhantes aos do Delúbio e do Zé Dirceu. E ele era um dos donos do dinheiro...

Mas os xeques salgam os preços do petróleo, enquanto montam usinas de dessalinização da água e previnem o futuro. Os Estados Unidos já iniciaram as pesquisas da qualidade da água, prevendo que usarão brevemente suas reservas. O leviano Brasil não se importa: a maior bacia hidrográfica do planeta está sendo contaminada de forma atroz, e ninguém nem toma conhecimento. Literalmente: não há qualquer pesquisa a respeito.

E toma cruzada marqueteira repetindo o Grande Brasil da ditadura, que repete a França Profunda francesa, que repete o New Deal americano, que repete o Império onde o sol nunca se põe, da Inglaterra, que repete um livrinho amaldiçoado, mas seguido à risca, desde que foi escrito: o Príncipe.

Pois que deve o príncipe buscar motivos externos quando a situação interna piora, fazer uma guerra para se desviar das crises intestinas, montar uma cruzada se o governo estiver difícil. Mesmo que seja a cruzada das crianças para libertar Jerusalém, ou a do etanol para salvar o mundo.