segunda-feira, 1 de julho de 2013

Por que, Ocrides?

Há duas semanas eu terminava uma crônica perguntando se a presidente Dilma teria coragem de fazer o que devia ser feito. Ela não teve.
Na minha cabeça andam muitas indagações. Compartilho com vocês, que talvez possam responder a algumas.
Por que Dilma Roussef não consultou Michel Temer sobre o plebiscito? O vice-presidente foi parlamentar constituinte e é constitucionalista respeitado. Sabe onde pisa – não é atoa que é vice, indicado por um partido que é um saco de gatos e aceito pelo aglomerado que ganhou a eleição. Eu não sei por que ela não fez a consulta, mas o fato de não fazê-lo indica que agiu deliberadamente. O que ela quer com isso?
Por que Dilma Roussef alterou, em março deste ano, o Decreto 5.289/04, que regula o funcionamento da Força Nacional, para viabilizar seu emprego por simples solicitação de quaisquer dos seus 70 ministros, sem audiência dos governadores de Estado? (No mesmo decreto foi criada uma companhia de policiamento ambiental destinada a “prestar auxílio à realização de levantamentos e laudos técnicos sobre impactos ambientais negativos” entre outros objetivos. Mas a primeira alteração é muito mais ampla que a segunda).
Por que Dilma Roussef apresentou aos governadores e prefeitos que reuniu um conjunto de propostas vazias? A reunião se destinava apenas a emparedá-los? Ou ela não sabe que quase tudo o que apresentou como pacto depende do governo federal, extremamente liberal em suas próprias iniciativas e extremamente rigoroso com os Estados e Municípios?
Por que os dois assessores da Casa Civil da Presidência envolvidos nos conflitos em Brasília não foram demitidos? (Pelo contrário, a Casa Civil forçou o secretário de Segurança do Distrito Federal a dizer que eles não tinham nada a ver – mesmo com os documentos publicados pela “Folha de São Paulo” e com a ocorrência policial registrada).
O site do PT, somente três dias depois de Dilma Roussef ter proposto a reforma política, lançou uma campanha completa de mobilização, com 7 modelos de cartazes, 2 de banners e uma cartilha “aprovada pela direção nacional” (assim está escrito lá) para o militante. Obviamente essa campanha estava pronta, visto que nenhum marqueteiro, por melhor que seja, consegue um resultado tão veloz. Por que Dilma Roussef apresentou a reforma como se fosse ideia nova, resposta ao clamor das ruas?
Por que a Caixa Econômica Federal pagou adiantado as bolsas-família de maio? Como é que um banco pode pagar mais de um bilhão de reais sem mais, nem menos? Em junho, a CEF retomou o calendário. E até agora a desculpa da Caixa – uma “atualização cadastral”, com evidente prejuízo para o banco – não convenceu ninguém.
E por que quem ficou de investigar está em silêncio?
Por que Dilma Roussef não dá um chega pra lá na arrogância da FIFA?
Por que as campanhas publicitárias do governo federal passaram a insistir no ufanismo? (Aliás, elas estão muito semelhantes às campanhas da década de 1970 – alguns podem se lembrar: “eu te amo, meu Brasil”).
Por que Dilma Roussef insiste em trazer médicos estrangeiros? Será que ninguém informa para ela que eles não ficarão no interior, porque simplesmente não há condições de trabalho nos pequenos e falidos Municípios do Norte e Nordeste? Que os médicos não vão para o interior por que o tempo dos missionários acabou? Que compromissos há por detrás dessa medida?
Por que Dilma Roussef propõe um pacto pela responsabilidade fiscal quando há uma lei em vigor, tão rigorosa que mais de uma dúzia de prefeitos municipais já perderam o mandato e alguns estão na cadeia por descumpri-la? Qual a base deste pacto? O que está errado, que não é dito, que exige um pacto para ser corrigido?
Eu não consegui nenhuma resposta para estas perguntas. Mas o conjunto é sombrio, principalmente depois que o Banco Central informou, com a maior naturalidade possível, que a inflação oficial vai para 6% na previsão anual e que o crescimento do país vai ser menor que 3%. A notícia é do dia 27 passado – e ninguém, no governo, se mostrou preocupado com isso.