Aparício Torelli começa:
"A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas, em geral, enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele".
O romano Catão comenta:
“Os ladrões de bens particulares passam a vida na prisão e acorrentados; aqueles de bens públicos, nas riquezas e nas honrarias”.
Antonio Vieira observa:
“Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência”.
Aparteia Bill Gates:
"O sucesso é um professor perverso. Ele seduz as pessoas inteligentes e as faz pensar que jamais vão cair."
Mas Benjamim Constant volta para o foco:
“Os depositários do poder têm uma disposição desagradável a considerar tudo o que não é eles como uma facção. Eles chegam a incluir às vezes a própria nação nessa categoria”.
La Rochefoulcault reflete:
“Raramente conhecemos uma pessoa de bom senso além daquelas que concordam conosco”.
Stanislaw Ponte Preta reforça:
“A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento”.
Jean-Jacques Rousseau abranda:
“O povo, por ele próprio, quer sempre o bem, mas, por ele próprio, nem sempre o conhece.”
Georges Clemenceau brada:
“A democracia? Sabem o que é? O poder dos piolhos comerem os leões!”
Napoleão Bonaparte objeta:
“Não tenhais medo do povo. Ele é mais conservador do que vós”.
E acrescenta:
“O erro está nos meios, bem mais que nos princípios”.
Volta Aparício:
"O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato”.
E o Marquês de Maricá acrescenta:
“Há duas coisas que não se perdoam entre os partidos políticos: a neutralidade e a apostasia”.
Roberto Campos, ácido:
“A burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro brilhante”.
Maquiavel comenta:
“O primeiro método para estimar a inteligência dos governantes é olhar para os homens que tem à sua volta.”
E Getúlio Vargas:
“No Ministério há homens capazes. O problema é que alguns são capazes de tudo.”
Aparício comenta logo:
“Queres conhecer o Inácio, coloca-o num palácio!”
Giordano Bruno murmura:
“Que ingenuidade, pedir para quem tem o poder para mudar o poder!”
E Aparício, de volta:
“Os vivos são e serão, sempre, governados pelos mais vivos”.
Nelson Rodrigues, amargo:
“Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos...”
E Aparício conclui:
“O Brasil é feito por nós. Só falta desatar os nós..."
sábado, 5 de dezembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Segunda adolescência
Aos sessenta anos, descubro que entrei numa segunda adolescência. Adolescência às avessas, é verdade, mas, de repente, retornaram todas aquelas questões que perturbam o início da vida adulta.
Só que, na primeira adolescência, você ainda não pode. Na segunda, você não pode mais.
Olhar-se no espelho. O que vejo no espelho não é, absolutamente, como me sinto. Exatamente como uma adolescente, que jamais está satisfeita com o que encontra no espelho que não reflete o que vai por dentro. Aos 16, você encara o cabelo hor-rí-vel – exatamente como aos 61. A pele – ah!, meu Deus, espinha! diz a de 16. E a de 61: “Essas manchas!” . Em ambos os casos, não tem maquiagem que dê jeito, resta sair com a sensação de que todo mundo vai reparar.
A roupa nunca serve. Para a de 16, adulta em excesso; para a de 61, jovem demais. As queridas saias e blusas de repente se tornam objeto de olhares significativos. Você sente que errou, mas não sabe aonde. Acaba perguntando e ouvindo a mesmíssima resposta: “Essa roupa é um pouco inadequada, não?”
Você se sente deslocada, com ondas de insegurança, aos 16 e aos 61. Frequentemente cobram de você um comportamento padrão – que, aos 16, você ainda não alcançou, e, aos 61, você não dá conta mais. Você muda de gostos – aos 16, porque quer experimentar o mundo, aos 61 porque não aguenta mais aquela preferência – e todo mundo estranha: “Mas o que há com você?”
Ora, o que há! É que sou e não sou, do mesmo jeito que um adolescente é e não é. Estou vivendo um lusco-fusco: só que agora não é aurora, é ocaso.
Passei a ouvir uma frase que esquecera há muito: “Mas você não tem idade para fazer isso!” Muda apenas o advérbio: na primeira adolescência, entre o “tem” e o “idade” acontece um “ainda”. Na segunda adolescência, um “mais”. O resultado é o mesmo: um limite, uma indefinição, uma época de cores mal definidas, de luz e sombras.
Você toma uma dose de qualquer coisa e, instantaneamente, exatamente como aos 16, enfrenta um olhar de advertência. Aos 16, geralmente de alguém mais velho; aos 61, de alguém mais novo. Mas é o mesmo olhar.
Apaixonar-se é um problema. Adolescentes se apaixonam pela paixão, amam o amor, por assim dizer. Desconfio, pelo que tenho visto por aí, que mulheres de 60 também. Uma de 16 ouvirá: “Mas ele é velho demais para você!”. Uma de 61: “Mas ele é novo demais para você!”. O que, traduzido, quer dizer: inadequado, inadequado.
O sentimento de incompreensão é forte aos 16, como aos 61. As múltiplas restrições não casam com a disposição de ânimo. Você se machuca à toa com as boas intenções alheias. A diferença é que, aos 61, você sabe que as pessoas são bem intencionadas, e que geralmente têm razão. Aos 16, você bate numa muralha. Mas eu não consegui avaliar o que é pior.
Até porque na primeira adolescência, você pode tudo; e, na segunda, o que você pode é tudo o que tem.
Só que, na primeira adolescência, você ainda não pode. Na segunda, você não pode mais.
Olhar-se no espelho. O que vejo no espelho não é, absolutamente, como me sinto. Exatamente como uma adolescente, que jamais está satisfeita com o que encontra no espelho que não reflete o que vai por dentro. Aos 16, você encara o cabelo hor-rí-vel – exatamente como aos 61. A pele – ah!, meu Deus, espinha! diz a de 16. E a de 61: “Essas manchas!” . Em ambos os casos, não tem maquiagem que dê jeito, resta sair com a sensação de que todo mundo vai reparar.
A roupa nunca serve. Para a de 16, adulta em excesso; para a de 61, jovem demais. As queridas saias e blusas de repente se tornam objeto de olhares significativos. Você sente que errou, mas não sabe aonde. Acaba perguntando e ouvindo a mesmíssima resposta: “Essa roupa é um pouco inadequada, não?”
Você se sente deslocada, com ondas de insegurança, aos 16 e aos 61. Frequentemente cobram de você um comportamento padrão – que, aos 16, você ainda não alcançou, e, aos 61, você não dá conta mais. Você muda de gostos – aos 16, porque quer experimentar o mundo, aos 61 porque não aguenta mais aquela preferência – e todo mundo estranha: “Mas o que há com você?”
Ora, o que há! É que sou e não sou, do mesmo jeito que um adolescente é e não é. Estou vivendo um lusco-fusco: só que agora não é aurora, é ocaso.
Passei a ouvir uma frase que esquecera há muito: “Mas você não tem idade para fazer isso!” Muda apenas o advérbio: na primeira adolescência, entre o “tem” e o “idade” acontece um “ainda”. Na segunda adolescência, um “mais”. O resultado é o mesmo: um limite, uma indefinição, uma época de cores mal definidas, de luz e sombras.
Você toma uma dose de qualquer coisa e, instantaneamente, exatamente como aos 16, enfrenta um olhar de advertência. Aos 16, geralmente de alguém mais velho; aos 61, de alguém mais novo. Mas é o mesmo olhar.
Apaixonar-se é um problema. Adolescentes se apaixonam pela paixão, amam o amor, por assim dizer. Desconfio, pelo que tenho visto por aí, que mulheres de 60 também. Uma de 16 ouvirá: “Mas ele é velho demais para você!”. Uma de 61: “Mas ele é novo demais para você!”. O que, traduzido, quer dizer: inadequado, inadequado.
O sentimento de incompreensão é forte aos 16, como aos 61. As múltiplas restrições não casam com a disposição de ânimo. Você se machuca à toa com as boas intenções alheias. A diferença é que, aos 61, você sabe que as pessoas são bem intencionadas, e que geralmente têm razão. Aos 16, você bate numa muralha. Mas eu não consegui avaliar o que é pior.
Até porque na primeira adolescência, você pode tudo; e, na segunda, o que você pode é tudo o que tem.
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