domingo, 4 de maio de 2014

Haiti: nossa parte


O Haiti tem 27.750 quilômetros quadrados; isto é pouco mais que a metade da ilha do Marajó, que tem 40.100 km2. Sua população total é de cerca de 8 milhões de habitantes – menos que a existente hoje na Região Metropolitana de São Paulo. O Haiti é o país mais pobre da América Latina.

No dia 1 de junho próximo completam-se 10 anos da criação da Minustah  - a força de segurança da ONU para a estabilização do Haiti – liderada pelo Brasil. Há dez anos estamos lá. Em 2010 o Haiti foi sacudido por um terremoto que arrasou o país. Até hoje mais de 300 mil pessoas vivem em 271 campos de refugiados, informa a agência EFE. Essas pessoas não têm nada: nem presente, nem futuro. Quando um campo desses é fechado, informa a mesma agência, elas são simplesmente expulsas. Além disso, o Haiti está na rota dos furacões: o último a passar por lá, a tempestade Sandy, piorou tudo.

No artigo “O Haiti é daqui”, o jornalista Renato Machado informa que a missão de paz do Brasil no Haiti já custou 2 bilhões de reais e que a tentativa de fazer uma hidrelétrica no país gorou. O custo, de 190 milhões de dólares, não teve financiador.

Bem, as ONGs brasileiras foram para lá. De muitos matizes: do Viva Rio ao MST, passando por igrejas de muitos credos. Mas a ajuda internacional está minguando, elas estão reduzindo a ação. Mas sobra pouco de saldo positivo da presença oficial brasileira: dois hospitais e 200 agentes de saúde.

Os haitianos aprendem português para viver um sonho brasileiro. Eles emigram, Mesmo vivendo nas condições que o Brasil oferece aos migrantes, é melhor aqui do que lá. Mas o Brasil, que está pagando caríssimas universidades europeias, canadenses e norteamericanas para graduar brasileiros, sequer ofereceu seus professores para recompor a única universidade haitiana, que perdeu metade de seu quadro no terremoto. Ou bolsas para os graduandos de lá virem estudar aqui.

A imensidão brasileira recebe migrantes de toda parte do mundo. Já se disse que a maior cidade libanesa está em São Paulo. Estamos recebendo uma enorme quantidade de chineses. Cada um por si.

Mas fazer haitianos de peteca, despachá-los do Acre para São Paulo de qualquer maneira é uma coisa absurda. Embora não haja muito de novo nisso: houve época em que governos nordestinos enchiam paus-de-arara e mandavam para o Pará. Sem aviso.

No entanto, a saída de haitianos de seu país mostra claramente que os dez anos de presença brasileira no Haiti não mudaram muita coisa, mesmo que se considere os limites impostos por uma ilha à população residente. Na verdade, nesse período o Brasil ajudou mesmo foi Cuba. O porto de Mariel custou quase um bilhão de dólares (957 milhões, diz o principal financiador, o BNDES). O programa Mais Médicos transferiu 40 milhões de dólares, limpinhos, para o governo cubano. Para citar só duas ações.

Agora, o governo brasileiro apresenta uma solução para o Haiti: vistos de imigração sem limites. Que, aliás, os funcionários da Embaixada não dão conta de emitir e nem os haitianos de pagar. Ou seja: nada. Uma política tímida e caolha, pouco solidária e muito, mas muito, imperialista.

Cidades violentas – Transcrevo a seguir nota de esclarecimento da ONU que os jornais não publicaram sobre a lista de cidades mais violentas do mundo:

“Após o lançamento do Estudo Global sobre Homicídios 2013, em 10 de abril, alguns veículos de comunicação atribuíram ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) uma lista que coloca 11 cidades brasileiras entre as 30 mais violentas do mundo.
Por meio desta nota, o UNODC reitera que essa lista não consta no referido relatório e que, portanto, não pode ser atribuída à Organização das Nações Unidas. O Estudo Global sobre Homicídios busca oferecer uma visão abrangente sobre os homicídios ao redor do mundo. Como este tipo de crime é um dos indicadores mais precisos e comparáveis para a medição da violência, seu objetivo é melhorar a compreensão do fenômeno a nível global.”
Quem se retrata?