segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Supermercados e agrotóxicos

Leio por toda parte que os supermercados vão “rastrear as frutas, legumes e verduras durante o fluxo da cadeia produtiva. A ideia é monitorar o uso de agrotóxicos utilizados na produção destes alimentos”.
Bem, nesta semana que passou fui a três supermercados. E, sinceramente, penso que eles deveriam rastrear primeiro o que está nas suas gôndolas e prateleiras.
Porque eu encontrei tangerinas e melões estragados, batatas começando a apodrecer e coentro com folhas já escuras e alface americana manchada. Nos três supermercados encontrei produtos com validade vencida. E isto não é de hoje: já aconteceu de eu obrigar o atendente do balcão de frios a retirar a mercadoria vencida da gôndola. (Ele achou tudo muito estranho; não sabia o que fazer com os pratinhos que eu empilhava no balcão; ficou espantado de alguém protestar assim; afinal, arrumou tudo numa bandeja e até hoje eu não sei o que aconteceu depois).
Não dou o nome aos bois porque beneficiaria os outros supermercados, em alguns dos quais eu entrei uma vez para nunca mais, porque o preço um pouquinho mais baixo não justifica a negligência generalizada e, muito menos, a sujeira.
Eu não tenho nada contra a fiscalização de agrotóxicos. Tenho medo deles e de muitas outras coisas que também deixam rastros nos supermercados. Essas outras coisas não são novidade e nem dão marketing: o manuseio de frutas; a limpeza das máquinas de fatiar, das gôndolas de carne, peixe e frango, das bandejas e potes com conservas vendidas a granel, das prateleiras de verduras; a regulagem de temperatura de balcões de congelados; a conservação dos carrinhos. Em todos esses itens os supermercados de Belém são deficientes. Qualquer um e todos têm mau cheiro nos setores onde a limpeza faz muita diferença.
Também são deficientes em outro capítulo: as instalações e os serviços. Na maioria das capitais brasileiras os balcões de caixas são distribuídos de forma a permitir a passagem dos carrinhos e a pesagem de frutas e legumes é feita no caixa. Aqui, o consumidor tem que enfrentar uma fila para pesar e outra para pagar; a passagem do caixa é tão estreita que um Jó Soares tem dificuldades para passar. Há um exército de arrumadores, atendentes, embaladores, supervisores e caixas. Mas são tão mal treinados e mal acostumados que raros são os que identificam um consumidor como cliente. O consumidor é uma coisa que está ali; ele que se vire se o corredor foi fechado por dois carrinhos de abastecimento emparelhados. Ele que espere a arrumação terminar – o que geralmente é entremeado por conversas particulares em voz alta, piadinhas e comentários.
Se você pagar em dinheiro, prepare-se para perder. Não há mais moedas de centavo. Dois, três centavos de cada vez – a conta é arredondada e ninguém sequer explica ou pede desculpas. E perder um bom tempo: se for o primeiro quando o caixa abrir, deverá esperar que alguém vá em algum lugar trocar o seu dinheiro, porque as gavetas começam vazias a cada troca de caixa. É frequente o caixa ter que digitar os códigos, porque as etiquetas estão molhadas, dobradas, sem tinta – e haja espera.
Do lado de fora, os caminhões em fila dupla tumultuam o trânsito a qualquer hora. Carretas fecham ruas e infernizam os vizinhos.
Com tudo isto, rastrear os agrotóxicos será, de fato, prioritário? Ou melhor: vai funcionar mesmo?