segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Mais um

Caiu mais um avião em São Paulo.

Desta vez não foi um jatão, foi um jatinho.

Não foram cem mortos – mas foi-se uma família inteira, cujo chefe brincava sossegadamente com o neto presumindo-se seguro em seu lar.

Como Congonhas, o Campo de Marte fica entre duas esquinas de Sampa.

Sobreviveu uma adolescente, doente mental, agora totalmente órfã. O que será dela?
Com horrorosas queimaduras no corpo, sofrerá sem saber porque durante meses a fio.

Sofrerá depois sem saber porque, durante anos a fio, sua solidão sobrevivente.

Uma bola de fogo, caída do céu, levou todos os seus.

Caída? Não, enviada pelos irresponsáveis que controlam o tráfego aéreo no Brasil.

Dirigida para ali pela presteza burocrática em atender os interesses do bezerro de ouro.

Enviada, postada para esse endereço pela inércia burocrática em atender os interesses da maioria.

Caiu mais um avião em São Paulo.

E nem se fala mais nos problemas de Congonhas, quem se lembra disso?

E nem de pilotos tensos diante dos temporais numa pista traiçoeira – eles ganham para isso, não é mesmo?

E nem do bebê que morreu antes de nascer, no inferno criado pela colisão do airbus, e do bebê de nove meses que morreu desta vez, no colo do avô, queimado vivo.

Afinal, a quem interessa a vida desses bebês?

Os jatinhos das autoridades, indo e vindo do Campo de Marte, é que não podem parar. Custe o que custar em vidas de avôs, mães e bebês.

Afinal, como é que uma autoridade vai encarar uma hora de engarrafamento paulistano, se tiver que descer do avião em outro local? Isso é para a plebe ignara, não para quem já deixou de ser povo. A plebe rude pode morrer, mas a autoridade não pode perder tempo.

E São Paulo, que agora devora suas entranhas vítima do próprio gigantismo, não pode parar de crescer.

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