Uma vez nós tivemos um imperador que perdeu o trono por ter libertado os escravos.
Ele poderia ter usado a máquina do Estado à sua discrição. O regime assim o permitia.
Mas seu governo foi austero e sua discrição pessoal se tornou lendária.
Ele enfrentou guerras na fronteira sul, mas a inflação ficou sob controle.
Depois dele, não quisemos mais imperadores. Criou-se a república militar, e, depois dessa, criaram-se mais três, apenas uma delas totalmente civil.
A quinta república, lançada por Tancredo Neves e inaugurada por José Sarney corre o risco de terminar agora, ainda viva a geração que lutou por ela, e dar lugar à sexta, a República Sindical.
Nos sindicatos, os dirigentes apóiam-se na inércia da maioria e podem eternizar-se mediante o simples expediente de manter as pessoas em casa mediante a distribuição de vantagens – bons negócios, no caso de empresários, aumentos anuais, no caso de empregados.
Assembléias ditas gerais, em sindicatos de milhares de associados, reúnem cem ou duzentas pessoas. Geralmente belicosas, geralmente agressivas, geralmente corruptas.
A história dos sindicatos é uma história de corrupção. Alguns filmes tratam do assunto (o mais recente, “A Invasão dos Bárbaros”, é canadense) e muitos trabalhos acadêmicos, convenientemente “esquecidos” pela maioria, também.
Sindicatos, no Brasil, têm seus recursos desviados para campanhas eleitorais – e foi por isso que empregados e empregadores se uniram para impedir que prestem contas do dinheiro que recebem. Lula disse que é a defesa da autonomia sindical. Mas prestar contas não quebra autonomia de ninguém: quebra a corrupção.
Dirigentes sindicais se apóiam no populismo. No irresponsável populismo que tornou o emprego extremamente difícil, graças à enorme burocracia pendurada nele: Justiça do Trabalho, Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho, Ministério da Previdência, Sistema S, e mais de mil sindicatos. Para manter cem empregos abertos, um desses terá que ser dedicado exclusivamente à papelada do emprego.
E eis que, agora, o modelo chega ao Planalto: vamos para o terceiro mandato?
Lula repete Floriano e Getúlio: “o povo me quer”.
Ele vendeu a alma da mãe ao diabo para chegar à Presidência: fez o acordo com os banqueiros, do jeitinho mesmo que eles queriam: eles financiaram a campanha dele, por via dos sindicatos. Agora, vai vender a própria alma a Satanás, para manter-se nela. Está rompendo todos os limites da dignidade, da ética, da consciência política, da coerência pessoal. Está sendo mais um caudilho, figura que se pensava tivesse o Brasil excluído de sua vida política.
A corrupção grassa solta, os meios e modos mais sórdidos para eternizar-se no poder são usados de maneira escancarada. A autorização de roubar é dada pelo próprio presidente: condena-se o governador do Ceará por ter levado a sogra para a Europa, mas Lula levou antes o filho para o Chile e para Antártida. De fato, não há proibição expressa em lei nenhuma, como alega o governador. Mas é preciso?
O país inteiro sabe dos meios escusos da camarilha presidencial. E é isso, mais que tudo, o que enfraquece as ações de segurança pública. Mas, afinal, quem se importa? Da mesma maneira como ninguém se importa com o que acontece com o dinheiro do imposto sindical. Porque não houve um só protesto quando Lula impediu que os sindicatos prestassem contas do dinheiro que recebem.
Se ficarmos quietos, teremos que chamar Lula de Pai dos Pobres, como a Perón, ou Pai da Pátria como a Stálin. Ou talvez tenhamos uma caricatura de imperador: o que não quisemos há mais de século, agora feito no Paraguai. Ou na China.
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