Não é possível ficar indiferente.
Qualquer uma de nós sentirá um estremecimento só em pensar
em sua filha como uma delas, embora nós estejamos do outro lado do Atlântico,
num outro mundo cultural, muito longe da Nigéria e da insanidade tribal desse
grupo islâmico.
As duzentas mães de Ajuba precisam de solidariedade e de
esperança no resgate de suas filhas sequestradas e escravizadas somente por
desejarem uma vida melhor para si e para o seu povo. Por estudarem. Por
sonharem os sonhos comuns a todas as nossas filhas: um diploma, uma profissão,
respeito social.
Essas mães à beira do desespero são uma situação extrema da
difícil maternidade de nossos tempos. Antigamente as mães temiam as guerras e
as doenças. Elas viviam um corpo-a-corpo contra a morte, em meio ao
embrutecimento do trabalho doméstico contínuo. Hoje a função materna se tornou complexa.
Se, antes, as mães preocupavam-se com as más companhias, hoje devem se
preocupar também com as más informações, essas coisas fluidas que entram na casa
da gente por variados meios e distorcem o pensamento das crianças. Aos cuidados
tradicionais com alimentos, roupas, ciclos de crescimento, estudo e formação de
caráter, somaram-se a guerra contra o consumismo induzido pela publicidade
exagerada, contra a droga, contra o aliciamento; a necessidade de inserção num
mundo em rápida transformação; a iniciação à vida adulta numa sociedade
exigente e complicada. As meninas não sonham mais somente com um príncipe
encantado, elas não querem mais o poleiro dourado da prisão doméstica. Elas
querem viver integralmente.
Uma coisa não mudou, entretanto: a culpa. É sempre da mãe.
Imagino essas mães nigerianas ouvindo dos parentes, maridos
inclusive: “Porque você insistiu em manda-la para a escola?”. Ou, ainda: “Era
melhor ter deixado a garota em casa”. Em situações muito menos dramáticas,
ouvimos isso quase todos os dias. E, agora, atribuem-nos culpas até mesmo pelos
genes que transmitimos, como se pudéssemos controlá-los...
São as mães que continuam indo nas reuniões de pais. São as
mães que fazem fila nos cadastramentos de bolsas, na espera das senhas para
qualquer tipo de atendimento social. São as mães as responsabilizadas pelo
desempenho, escolar ou social, do garoto. “Tua mãe não te educou, não?”.
Pois é exatamente para responder a essa cobrança que as mães
nigerianas tentam educar melhor as suas filhas. Com o coração apertado, mas
lutando pelo futuro delas, enfrentando o machismo e a intolerância, como nós
fazemos todos os dias por nossas filhas. Só que em nosso país as garotas correm
riscos, que são a ameaça do perigo, ao ir para a escola. Em Ajuba, correm
perigos reais.
As lágrimas e o sofrimento dessas mães nigerianas exigem de
nós um gesto de apoio, principalmente hoje, em que celebramos a maternidade.
No mínimo, uma oração.
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