Pão e circo, diziam os romanos, acalmam a plebe. Mas eles mesmos
concluíram que nem sempre, e tiveram que impor a paz romana, uma variedade de
paz que consistia, simplesmente, em matar os revoltosos e descontentes.
O governo tira o circo – ops, a copa! – da cartola
esportiva. Isto acalmará a plebe?
Os experientes romanos sabiam que acalmaria, sim – mas só enquanto
o espetáculo durasse. Por isso dispunham suas legiões com estratégia: para os
veteranos da campanha da Gália, Júlio César deu terras em torno de Roma. Assim,
premiando, ele montou um círculo de ferro em torno da cidade. Se os
ex-legionários foram capazes de produzir trigo e vinho, não sei; mas Roma sob
Júlio nunca se revoltou.
A copa está chegando mas quase todos os brasileiros vão ver
os jogos do mesmo jeito que viram nas últimas copas: pela tevê. Uns poucos irão
aos estádios, cercados por policiais na ida e na volta. Dilma, Blatter e todos
os outros serão vaiados. Nada contra, não, senhor: pura farra. As plateias serão brasileiras, porque a
grande promessa turística de um evento desta magnitude deu chabu. Há uma
companhia aérea na Europa que está oferecendo passagens para o Brasil na copa
com 70% de desconto! Os ingressos vendidos na Europa estão sendo revendidos
aqui mesmo, como mostrado na tevê. E eu me pergunto quem é que tem dinheiro
para comprar um ingresso por três mil reais... ou melhor, me pergunto se o
dinheiro que compra um ingresso por três mil reais é legítimo.
É uma copa escandalosa, essa, que sai da cartola esportiva. Um
coelho dourado devorador de dinheiro. O Brasil espera 600 mil turistas, me
informa o Financial Times de Nova
Iorque. Se cada um deles gastar no Brasil dois mil reais, teremos uma entrada
de receita de 1,2 bilhão – muito, muito menos do que já se gastou para recebê-los.
E o maior legado da copa são os grandes circos – ops,
estádios! – onde não pisarão, por certo, nossos humildes clubes de futebol,
mesmo que se reconheça que são eles que sustentam a paixão brasileira pelo
jogo. Ah, se esse dinheiro dos gigantescos estádios fosse aplicado em pequenos
estádios nos municípios, o quanto poderíamos avançar no esporte!
Mas o que mais me impressiona é a espécie de apatia que
tomou conta do país nesta fase, em que pese os esforços das televisões e seus
anunciantes. Apatia não só em relação à copa mas, também, em torno das festas
juninas. Meados de maio e os estoques estão encalhados. Da copa e do caipira. O termômetro da animação está baixo.
São os protestos? Penso que talvez tenham alguma coisa a
ver, mas o que vejo na população é cansaço, exasperação, uma inquietação
irritada e intolerante. E me pergunto: quando o coelho voltar para a cartola o
circo terá acalmado a plebe?
Um comentário:
O desânimo com a Copa e com as festas juninas tem um nome:
INFLAÇÃO.
Como uma depressão a qual pensou-se curada, mas com a mudança do remédio, voltou; daí o paciente fica cansado, exasperado, irritado e intolerante porque descrente do remédio - no caso, do placebo - enfiado goela abaixo.
Pior o médico fazer firula, comprar bandeirinha e mostrar os novos aposentos da clínica, que o paciente não é burro e conclui que foi ele que pagou, em benefício dos outros. Ou seja, ele não é burro, mas se sente como tal porque descobre o engodo, a vigarice e falsidade do dotô.
Qual deprimido que saber de festa?
No máximo, pela televisão.
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