Poucas oportunidades existem iguais à que o Dia dos Pais nos
oferece para conhecer um pouco mais o estereótipo masculino em nossa sociedade.
E é muito simples descobrir: basta percorrer as ofertas publicitárias para o
presente do papai. Elas são um termômetro, principalmente aquelas repetitivas.
O mesmo produto oferecido por várias empresas e várias peças de publicidade
traduz a tentativa de vender mais dentro de uma demanda consolidada: trata-se,
pois, de um produto que as pessoas procuram, querem comprar. E se querem
comprar como presente é porque acham que será adequado, que o papai da vez quer
ou vai gostar. O que acaba caracterizando um dado de estereótipo, isto é, de como a
sociedade vê o homem neste início do século.
Graças a Deus a publicidade arquivou (e se arquivou, é
porque ninguém quer) as gravatas e as meias. Elas ainda estão presentes, mas na
cabeça das professorinhas que ensinam crianças: como faziam meus filhos há
trinta anos, meu neto deu ao pai uma gravata e uma meia de papel, feitas no
colégio, com mensagens carinhosas. Parece que, nas escolas, a tradição vence
fácil a imaginação ou a criatividade.
Na publicidade, alguns artigos são recorrentes o tempo todo.
Nesta fase, são os eletrônicos: celulares e que tais, computadores,
televisores, aparelhos de som. Para o dia do papai a oferta não mudou muito: o
mesmo anúncio de descontos que serviu para a copa do mundo também serviu para o
dia dos pais. De qualquer forma, é um dado de estereótipo: todo mundo precisa
estar conectado, mesmo que não tenha banheiro em casa (diz a ONU que há quase
um celular por habitante no planeta, embora metade dele não tenha instalações
sanitárias).
Este pai conectado, no Brasil, precisa ter barba e cabelos
bem feitos: todos os magazines e grandes redes ofereceram, nos itens principais
de seus anúncios, barbeadores,
aparadores de pelo e cortadores de cabelo; alguns acrescentaram xampus.
Espera-se que veja e ouça, mas não que leia: nem as
livrarias ofereceram livros para o dia do papai. Elas ofereceram filmes e
coletâneas de discos e shows.
Ele deve se vestir bem, mas esportivamente: a eterna camisa
dos presentes masculinos este ano foi de malha e mais descolada. Não vi nenhuma
oferta de terno ou de sapato social. Quanto aos tênis, há mais cor e alegria.
É um sujeito que cuida do corpo. Uma infinidade de artigos
para exercício bombou nos anúncios. De estações de musculação completas até garrafinhas
de plástico para água, passando por relógios especiais e monitores cardíacos.
Paradoxalmente, este pai deve gostar de um gole. Uma grande
quantidade de artigos para vinho e cerveja foi oferecida: conjuntos para abrir
e fechar garrafas, canecas, recipientes térmicos, decantadores e adegas
eletrônicas.
Ele também deve saber fazer um churrasco. As ofertas de
conjuntos para churrasco, aventais, churrasqueiras e outros produtos tomam
parte importante das peças publicitárias.
Deve saber usar ferramentas: furadeiras, lavadoras de pressão, maletas de ferramentas, são ofertas antigas, mas que continuam em alta.
Deve saber usar ferramentas: furadeiras, lavadoras de pressão, maletas de ferramentas, são ofertas antigas, mas que continuam em alta.
Mas, felizmente, o pai compartilha mais as tarefas
domésticas. Digo isto porque, pela primeira vez – embora de forma complementar,
no rodapé dos anúncios – apareceram geladeiras ao lado da cadeira-do-papai, que por muito tempo foi o único item doméstico apresentado, e ainda continua firme. . Ah,
e panelas elétricas. Afinal, cozinhar ainda não é com eles...
Nenhum comentário:
Postar um comentário