Entre o eleitor e o candidato existe uma tela onipresente.
E, se o meio é também uma mensagem, é preciso saber qual a mensagem dessa tela.
Ela é plural: grande, no cinema; média, na televisão;
pequena, nos computadores e assemelhados; micro, nos comunicadores portáteis.
Ela não conduz à realidade, mas ao reality-show: isso que
ela mostra, não nos atinge. Geralmente, nos distrai por um momento – e vamos
para o próximo. É um meio superficial, gôndola de supermercado, sai um produto,
entra outro. Aqui e ali se recolhe uma informação útil. E, como o nosso cérebro
não é infinito, memorizamos essa informação e apagamos o resto.
No cinema, a tela é unidirecional. Ela passa um recado, mas
só aquele, e vai direto para a impressão emocional. Filmes com temas políticos
são sempre de propaganda (como “A rainha” e “O discurso do rei”, feitos para
compensar o efeito Lady Di sobre a família real inglesa) e apelam diretamente
para o subliminar. Graças a Deus, são difíceis de fazer e quase sempre chatos
de ver.
Na televisão, a tela onipresente é também fracionária: ela
se divide em segundos. Assim, há que falar em segundos. Se o tema é complexo,
terá que ser simplificado. O resultado é uma vala comum de chavões, porque não
há como explicar em segundos nenhuma política pública. A distorção do meio é
cruel, reduz a insulto o que deveria ser crítica. Enéas se apresentou ao país
em 30 segundos com um bordão de teatro que lhe rendeu votos mas nenhuma
densidade política. É politicamente inexpressivo.
Nos computadores e nas telas dos portáteis ligados à
internet, onde a leitura é obrigatória, há mais espaço para conteúdos e também
menos pressa: você sempre pode guardar para ler depois. Mas aqui é o brilho da
tela que cria outro tipo de distorção. Um quadro de Van Gogh na tela do
computador emociona muito mais do que o quadro real: este não tem brilho nem
transparência. A mistura desordenada com os anúncios (que saltam em cima do que
você está lendo) nivela por baixo qualquer assunto, o transforma num produto a
ser consumido. Além disso, o texto deve ser também sintético: ler com luz na
cara cansa. O leitor desiste logo.
Finalmente, a telinha do portátil que recebe e transmite
mensagens e clipes. Aí só dá para algumas palavras, para a discussão curta e
grosseira. Ou seja, xingamentos, que também são parte de toda campanha
eleitoral que se preze. Mas que só permitem um juízo de valor: avaliar a
capacidade do candidato na pronta resposta e o grau de civilidade que tem.
O meio que transmite a mensagem cria distorções enormes,
pois: o eleitor tem somente uma imagem do candidato; não tem a possibilidade de
contribuir com seu esforço para a vitória de A ou B; não consegue saber a
diferença entre uns e outros, exceto quando a proposta é radical. O resultado é
o que estamos vendo: uma campanha vazia, produto direto da sua concentração nas
mídias audiovisuais.
As mídias audiovisurais deveriam ser apenas uma parte da
campanha; mas, com as restrições draconianas impostas por um falso moralismo –
afinal de contas, ninguém vota contra seus próprios interesses imediatos e
posso contar muitos causos que comprovam isso – o debate político virou, mesmo,
um show ensaiado. Conseguiram acabar com a festa das ruas. O candidato emergente
– aquele que fazia uma coleta entre amigos para pagar meia dúzia de camisas ou
imprimir seus santinhos, financiar o som da festa do santo, contratar a van
para levar seus eleitores à urna – dançou. Tem que barganhar com os caciques um
tempinho para se apresentar na tevê – e esperar que seu carisma, se o tiver, faça
o resto.
Que pena!
Um comentário:
Ana, gostei muito!!
Até reality-show de enterro. Fiquei chocada!
Um beijo,
Cristina Vaz
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