Talvez não haja retrato maior da ineficácia das leis ou da
impunidade brasileiras do que o panorama deste processo eleitoral em que mais
de duas centenas de candidatos, tanto para cargos executivos como para cargos
legislativos, respondem a processos por corrupção e crimes conexos, muitos já
condenados por juiz singular.
Já não é só Maluf quem, com a cara de pau que ostentou
durante toda a sua vida, encara desdenhosamente processos e instâncias
judiciais para, a cada eleição, postar-se como coringa em São Paulo, puxar
milhares de votos para as urnas e, de aliança em aliança, de composição em
composição, manter-se no topo do que Lula chamou de zelite, palavra que repito aqui para distinguir esse povo da
verdadeira elite brasileira.
O site “Congresso
em foco” trabalhou sobre os dados dos registros de candidaturas e encontrou 253
candidaturas indeferidas pelos Tribunais Regionais Eleitorais (no Pará são 20).
A maioria desses candidatos continua em campanha, exatamente como Maluf,
enquanto espera pelo julgamento no Tribunal Superior Eleitoral. É verdade que
eles são apenas 1% dos cerca de 25 mil candidatos registrados. Mas é verdade
também que os partidos os registraram porque são puxadores de votos: seus votos
engrossarão as legendas e não apenas no cargo para que concorrem, mas para o
restante da chapa. Se a candidatura for indeferida e o registro cassado, os
votos individuais para esse candidato serão anulados – mas os restantes valem. Beneficia-se
o partido e os demais candidatos que compõem a chapa.
O que revolta é saber-se que, exceto o Partido Comunista
Brasileiro e o Partido da Causa Operária, que não registraram fichas sujas,
todos os demais partidos contam com esses duvidosos puxadores de votos. E que
eles puxam votos porque a Justiça Eleitoral é lenta demais, indiferente às consequências
de sua morosidade, que incluem afastamento de prefeitos no meio do mandato
porque somente dois anos depois é que a impugnação ao registro teve julgamento
definitivo. O registro de candidato duvidoso tornou-se um recurso de campanha
eleitoral válido – e isto contamina a democracia.
Pode-se dizer que predomina, no caso, o princípio constitucional
de que um acusado é inocente até prova em contrário. O problema é que a
aplicação desse dispositivo é seletiva, não vale para todas as pessoas: os
presídios estão cheios de presos temporários, que cumprem pena antes do
julgamento. Mas para a zelite, ele
vale. Para o partido que usufrui da fraude, ele vale.
O outro aspecto dessa perversão eleitoral é o fato de serem
essas pessoas puxadoras de votos. Milhares de pessoas votam em Maluf a cada
eleição, centenas de milhares votarão nos fichas sujas. Eu não acredito na
inocência do eleitor contemporâneo, mesmo que ele vote numa seção lá onde Judas
perdeu as botas. Ele sabe em quem está votando e vota. Essa massa demonstra
claramente que não se importa com a corrupção ou, então, que não confia no
Poder Judiciário. Em qualquer das alternativas, aponta para um buraco negro - cuja
força gravitacional, como se sabe, absorve tudo o que está em torno - no espaço
democrático.
Parece pequeno, esse buraco, considerando-se a relação entre
o número de candidatos e o total de fichas sujas. Mas o verdadeiro tamanho dele
só se poderá saber no volume de votos que mereceram. E a questão que se coloca
é se queremos ou teremos que continuar tolerando essa distorção perversa.
2 comentários:
Enquanto nada for feito , inclusive pelos jornalistas , para se acabar com o voto obrigatório , a resposta é sim .
Tem muita gente birrenta no nosso pais . Se ele é obrigado a votar ,deixar tudo o que esta fazendo para ir votar, então ele vota no pior , no mais corrupto , no mais analfabeto , no mais reacionário só para desmoralizar o sistema .Enfim , para dar o troco .
Agora , vindo para cá . Como se explica a candidatura do Xerfan , com tanto movimento contra a exploração sexual de menores ?
Correção . Não é Xerfan é SEFER !!
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