No dia 11 de outubro de 2012, o atual presidente do Supremo
Tribunal Federal, ministro Lewandowski, votou pela absolvição de Paulo Rocha.
Dois anos depois, neste mês de setembro, ele pede vistas do
processo de julgamento da impugnação da candidatura de Paulo Rocha, em que a
relatora votou pela manutenção da candidatura. Geralmente um ministro pede
vistas de um processo quando discorda do voto. O pedido parece estranho, pois –
o ministro terá suas razões para tanto, mas não se pode deixar de pensar no
acordo que fez com Renan Calheiros para conseguir um imoral aumento de irreais
34% na própria remuneração e na de seus pares do Judiciário. Uma espada na
cabeça de um senador governista é uma poderosa ferramenta de pressão.
Neste mesmo setembro Rayfran das Neves Sales, pistoleiro,
assassino da missionária Dorothy Stang, julgado e condenado a 27 anos de prisão
por esse crime, ainda cumprindo pena, é acusado de, em quadrilha, matar mais três
pessoas em local bem longe da penitenciária e preso. Com as bênçãos do
Judiciário, Rayfran, pistoleiro confesso, ficou trancafiado menos de 9 anos. No
dia 2 de julho de 2013 um juiz decidiu que ele era bonzinho o bastante para
cumprir o resto da sentença na própria casa. Ou seja, solto. Rayfran
acrescentou à pistolagem o tráfico de drogas.
Um a um os condenados do mensalão vão saindo da cadeia,
inicialmente a pretexto de trabalhar fora, enquanto aguardam a tal prisão
domiciliar. Jornada puxada desse trabalho fora do presídio: de 8 às 18 horas,
com uma hora de intervalo para o almoço. Se alguém acredita que José Dirceu vá
fazer “pesquisa processual e de jurisprudência” num escritório de advocacia, 9
horas por dia, merece integrar o coro dos serafins que cantam no céu. Os
ministros do Supremo Tribunal Federal, Lewandowski à frente, alinharam argumentos
em juridiquês para não ficar tão mal assim com essas concessões – até porque os
réus do mensalão ainda não cumpriram um mínimo razoável da pena. Eles disseram
que a lei que exige esse mínimo razoável está fora da realidade carcerária do
Brasil.
Mas eles não conseguem ver que é esse pedido de aumento
salarial de 34% que está fora da realidade brasileira.
Pelo jeito, a época é de vale tudo (que agora tem uma sofisticada
sigla – MMA – para disfarçar sua velhice secular: os espetáculos de violência
existem desde a antiguidade conhecida, com mais ou menos sangue, e mais ou
menos espectadores, conforme a época e a propaganda feita). Vale tudo no
Judiciário.
Vale tudo na campanha eleitoral: uma voz ao telefone
atribuída a “a”, “b” ou “c”. Uma invasão patrocinada. “Pesquisas” distorcidas.
Desconstrução de imagem mesmo que seja pela via da calúnia. Incoerência. Engavetamento
de processo. Jornais partidarizados, atirando lama para todos os lados.
E, como vale tudo tanto no Judiciário como na campanha
eleitoral, eu poria as barbas de molho, se as tivesse, diante da urna
eletrônica, seus disquetes e a falta de acesso aos resultados por seção
eleitoral. Um boi de 34 arrobas pode passar voando entre o dedo do eleitor e o
computador central do Tribunal Superior Eleitoral...
Um comentário:
Ana, bom domingo..se bem que está complicado com tanta lucidez!!!
beijos
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