domingo, 21 de setembro de 2014

Vale tudo


No dia 11 de outubro de 2012, o atual presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Lewandowski, votou pela absolvição de Paulo Rocha.

Dois anos depois, neste mês de setembro, ele pede vistas do processo de julgamento da impugnação da candidatura de Paulo Rocha, em que a relatora votou pela manutenção da candidatura. Geralmente um ministro pede vistas de um processo quando discorda do voto. O pedido parece estranho, pois – o ministro terá suas razões para tanto, mas não se pode deixar de pensar no acordo que fez com Renan Calheiros para conseguir um imoral aumento de irreais 34% na própria remuneração e na de seus pares do Judiciário. Uma espada na cabeça de um senador governista é uma poderosa ferramenta de pressão.

Neste mesmo setembro Rayfran das Neves Sales, pistoleiro, assassino da missionária Dorothy Stang, julgado e condenado a 27 anos de prisão por esse crime, ainda cumprindo pena, é acusado de, em quadrilha, matar mais três pessoas em local bem longe da penitenciária e preso. Com as bênçãos do Judiciário, Rayfran, pistoleiro confesso, ficou trancafiado menos de 9 anos. No dia 2 de julho de 2013 um juiz decidiu que ele era bonzinho o bastante para cumprir o resto da sentença na própria casa. Ou seja, solto. Rayfran acrescentou à pistolagem o tráfico de drogas.

Um a um os condenados do mensalão vão saindo da cadeia, inicialmente a pretexto de trabalhar fora, enquanto aguardam a tal prisão domiciliar. Jornada puxada desse trabalho fora do presídio: de 8 às 18 horas, com uma hora de intervalo para o almoço. Se alguém acredita que José Dirceu vá fazer “pesquisa processual e de jurisprudência” num escritório de advocacia, 9 horas por dia, merece integrar o coro dos serafins que cantam no céu. Os ministros do Supremo Tribunal Federal, Lewandowski à frente, alinharam argumentos em juridiquês para não ficar tão mal assim com essas concessões – até porque os réus do mensalão ainda não cumpriram um mínimo razoável da pena. Eles disseram que a lei que exige esse mínimo razoável está fora da realidade carcerária do Brasil.

Mas eles não conseguem ver que é esse pedido de aumento salarial de 34% que está fora da realidade brasileira.

Pelo jeito, a época é de vale tudo (que agora tem uma sofisticada sigla – MMA – para disfarçar sua velhice secular: os espetáculos de violência existem desde a antiguidade conhecida, com mais ou menos sangue, e mais ou menos espectadores, conforme a época e a propaganda feita). Vale tudo no Judiciário.

Vale tudo na campanha eleitoral: uma voz ao telefone atribuída a “a”, “b” ou “c”. Uma invasão patrocinada. “Pesquisas” distorcidas. Desconstrução de imagem mesmo que seja pela via da calúnia. Incoerência. Engavetamento de processo. Jornais partidarizados, atirando lama para todos os lados.

E, como vale tudo tanto no Judiciário como na campanha eleitoral, eu poria as barbas de molho, se as tivesse, diante da urna eletrônica, seus disquetes e a falta de acesso aos resultados por seção eleitoral. Um boi de 34 arrobas pode passar voando entre o dedo do eleitor e o computador central do Tribunal Superior Eleitoral...







Um comentário:

Recordando para Acordar disse...

Ana, bom domingo..se bem que está complicado com tanta lucidez!!!
beijos