Entre o Natal e o Ano Novo, o tempo é de utopia, mais que de
festas.
Porque estas duas invenções humanas celebram o nascimento e
o renascimento, ou seja, a esperança. E não há esperança sem utopia.
Conservadores usam a palavra utopia como um pejorativo com que
qualificam o que consideram impossível e até ingênuo ou ridículo. Mas,
frequentemente, têm que se render ao que achavam ser utópico: ao movimento
pacifista, por exemplo, à participação das mulheres na política, à
eletricidade... e muitas outras coisas que gente aparentemente sonhadora, mas
na verdade de muita fé, ousou construir.
A maior utopia, a da sociedade perfeita, onde todos vivam em
paz e harmonia, é buscada por todos: mesmo quem não acredita nisso tem um
pouquinho de esperança. E é esta esperança que faz com que todos façam votos de
paz neste período, mesmo se, no momento seguinte, insultem ou agridam. Um dia,
talvez...
É impossível chegar à concretização da utopia, porque haverá
sempre uma ambição a mais, um defeito a corrigir e, sobretudo, o fato de que a
utopia de cada um é diferente da dos demais. Há pontos comuns, é verdade.
Buscar estes pontos em favor da paz traz o sonhado para mais perto da
realidade.
Minha utopia, neste momento, é limitada, mas tão difícil
como qualquer outra: um 2015 melhor do que foi 2014. Sonho com isso porque não
vejo que vá acontecer; mas a dificuldade já é ruim em si mesma, não precisa ser
aumentada com terrores antecipatórios. Diante dos preços sendo reajustados toda
semana; do sumiço das moedas divisionárias, do troco; do estouro iminente da
bolha imobiliária com quebradeiras previsíveis; da possibilidade de perdermos
nossa maior estatal; da violência extrema em que mergulhamos; dos nossos times
de futebol em decadência – prefiro sonhar, sim, que de alguma maneira a
inflação será domada, a bolha imobiliária será emurchecida suavemente, a
Petrobrás resistirá, a violência diminuirá e nossos times encontrarão novos
caminhos.
Haverá meios, por certo, que podem trazer minha utopia para
mais perto da realidade, inclusive ações que eu mesma posso realizar, e, assim,
agirei guiada por ela, o que me fará encontrar alguma felicidade no ano que se
anuncia ruim.
E é isto o que desejo para todos: não desistam da utopia,
guiem-se por ela e gozem os relâmpagos da felicidade possível na dura travessia
do ano de 2015.
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