Dona Dilma veio ao Pará com cara de quem cumpre um
compromisso um tanto quanto enfadonho, mas inadiável. Subiu no palanque e
desfiou promessas, como se em campanha ainda estivesse. E, como na campanha,
prometeu o que sabe de sobra que não vai cumprir.
Dona Verdade foi escorraçada para baixo do tapete - ou
talvez tenha se escondido, envergonhada, quem sabe? Pois dona Dilma disse que
vai construir 42 aeroportos no Pará (embora os paraenses estejam cansados de
dizer que o que querem, mesmo, é um aeroporto decente em Santarém, outro, se
possível, em Marabá, e segurança nos céus em todo o Estado). Entoou loas às
hidrelétricas (embora os paraenses estejam cansados de exigir o cumprimento das
leis ambientais, pedir pelamordedeus que a União não mate o rio Tapajós com a
garimpagem descontrolada e uma dúzia e barragens, leve a energia, mas nos pague
as dívidas da lei Kandir). E que vai construir alguns milhares de casas (embora
todo mundo saiba que os cortes de verbas não vão permitir isso; é bem verdade
que ela não disse quando vai entregar essas casas). E foi por aí.
Na plateia, ansiosos felizardos das casas populares, postos
no fundo. A linha de frente era feita de cuteiros,
para garantir o entusiasmo encomendado para as câmeras. No palanque, uma linha
de impedimento, pendurada em cartões amarelos de suspeitas e incriminações.
Dona Dilma estava de vermelho.
Dizem que Dona Dilma não é política. Eu acho que é. Ela
liquidou Marina, afastou o Zé Dirceu, acabou com Patrus Ananias, quando foi o
caso de substituir Lula. Engole sapos, escorpiões e elefantes. Dona Dilma é uma
política que adora o poder, e não está nem aí para razões outras que não sejam
exercê-lo. Por ele, ela até faz dieta.
Por isso, Dona Dilma dá ao Pará e à Amazônia a importância
justa da medida eleitoral. Ou seja, mínima. Pouco se lhe dá se, ao subir no
palanque paraense, o discurso atravesse o samba. Ela olha a Amazônia como um
território a explorar, a gordura a queimar, a riqueza a conquistar. Dona Dilma
só conhece um pedaço do Brasil, aquele onde cresceu e se criou, o pedaço que
fez sua cabeça. O resto é apêndice, regiões problemáticas para as quais alguma
caridade consola. Ela não olha para o futuro: depois de amanhã é longe demais
para ela.
Dizem que Dona Dilma está encurralada. Ah, não está, mesmo!
Quem quiser que se fie nas encenações da dupla Renan/Cunha. Ambos defendem a
própria pele: não se arriscarão mais do que lhes recomenda a prudência. Por
isso, Dona Dilma continua mentindo: pode ser cínico, mas é mais cômodo e semeia
dúvidas. A principal delas é a falsa ideia de “não é política, diz o que lhe
mandam dizer”. Dona Dilma sabe explorar muito bem essa imagem de marionete: até
agora ainda há quem ache que ela não sabia de nada dos bilionários desvios de
dinheiro no seu governo...
Pior para nós, mulheres. De forma subliminar, essa postura
da presidente reforça o preconceito de que mulher tem que ser conduzida ou
guiada por um homem. No caso dela, Lula. No que eu não acredito: Lula tem
carisma, mas usa o cérebro dos outros.
O problema é que mais dia, menos dia, Dona Verdade vai
conseguir fugir de sob o tapete onde a esconderam e confrontar Dona Dilma. Só
espero que esse momento não represente uma ruptura institucional. Sejam de
esquerda, sejam de direita, governos de força são sempre muito, muito ruins.
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