domingo, 10 de junho de 2007

Temporada de anjos

Na terça-feira chegou a notícia: a Belinha foi vítima hoje de manhã de sequestro-relâmpago!

Nossa amiga dirigia o carro quando foi abordada por dois homens. Colocaram-na no banco do carona. Alguém viu e avisou a polícia. Uma viatura foi atrás. Num cruzameno, nervoso, o motorista deixou o carro morrer. Os policiais militares da viatura atiraram (com a refém no banco do carona). Os bandidos revidaram e saíram em velocidade alta.
A viatura conseguiu se aproximar, outra troca de tiros. Os bandidos saltaram do carro em movimento e o carro se acabou num muro, com a refém no banco do carona. Um dos seqüestradores foi atingido e morto. O air-bag do carro protegeu a moça, que saiu ilesa. Os policiais tiraram a nossa amiga do carro e levaram-na consigo, ainda tentando perseguir o segundo bandido. Ele fugiu, e, aí, como não havia mais nada para fazer, levaram-na então para receber socorro médico.

Na quinta-feira minha filha foi assaltada. Ela e mais cerca de 50 pessoas. Estavam numa danceteria. De repente, quatro ou cinco rapazes que bebiam e dançavam como os outros puxaram as armas. “Todo mundo sentado no chão! Joguem as bolsas e celulares!” – disse um deles. Dois foram para as gavetas dos caixas. Dois recolhiam os celulares e bolsas. Um bêbado não entendeu e tentou andar. Foi ameaçado, os amigos fizeram-no sentar. O porta-voz gritava: “Tem pouco celular, aqui, cadê o resto? Vocês querem morrer?” Os encarregados do caixa terminaram a limpeza e o grupo saiu correndo.

No sábado outra amiga apresentava os pulsos e braços muito machucados. Joana estava com Beatriz, sua amiga, e estacionava o carro, às 10 da noite, quando foi abordada por três homens. Um deles colocou um revólver na cabeça de Beatriz. “Desce. desce!” Joana não desceu. Começou a gritar. Um deles abriu a porta do carro do lado dela. Agarrou-a pelos braços, ela reagiu, deu-lhe bolsadas na cabeça. Ele arrancou-a do carro, jogou-a para o meio da rua e assumiu o volante. Os dois outros entraram e eles levaram o carro. Joana chamou a polícia. De madrugada o carro era localizado num desmanche, já sem os pneus. Colocaram os pneus, levaram o carro e bandidos para a delegacia. Lá, queriam que Joana apontasse os assaltantes assim, na cara dura. Ela se recusou, e aí o delegado soltou os presos, mas reteve o carro. Joana não se conformou e de madrugada mesmo foi dar queixa em outra delegacia. Conseguiu receber o carro de volta. Disseram que era ela louca em reagir – mas ela era apenas uma cidadã revoltada. Joana é profissional liberal, o carro é instrumento de trabalho.

Na sexta-feira seguinte, como sempre, vou ao supermercado logo cedo, por volta das seis e trinta. Desta vez, me atrasei procurando um papel, e faltavam quinze para as sete quando cheguei lá. Encontrei polícia e susto na cara das pessoas. Um bando tinha tentado um assalto às seis e trinta. Um vigilante reagiu, acertou um dos bandidos, e foi morto pelos outros. As moças dos caixas passavam as compras com lágrimas escorrendo dos olhos. “Nosso colega, nosso colega...!”

No domingo, duas famílias amigas que dividiam uma casa e um feriadão na praia de Salinas acordaram de madrugada com o alarme de um dos carros tocando. Espiaram, apenas, pela janela. Os carros estavam sendo tranqüilamente arrombados. Indiferentes ao alarme, os ladrões calmamente fizeram a limpeza. A família pediu socorro para a polícia. Não conseguiu nada.

São ricas, essas pessoas? nenhuma. Todos são de renda abaixo dos dez salários mínimos. O vigilante, então...

Na minha família, quase todos já fomos assaltados, alguns mais de uma vez. Por duas vezes tentaram arrombar minha casa – nas duas vezes eu estava sozinha, não conseguiram entrar por conta das grades e trancas que dão à casa, o aspecto de uma prisão – e eu tranco tudo quando estou só, mesmo de dia. O filho de minha empregada teve roubado o celular pré, que a mãe lhe tinha dado de presente, com enorme sacrifício, um mês depois de comprado. Ela teve que pagar todas as prestações para servir a um bandido.

Eis porque a temporada é de anjos: na situação em que estamos, só mesmo plantão de anjo da guarda para que possamos continuar vivos!