quinta-feira, 18 de junho de 2009

Planeta ameaçado

Alguém me diz que o planeta está ameaçado.

Aí me lembro: “choverá fogo e enxofre se continuarem nesta vida” – frase que teria sido pronunciada há três mil anos, por um dos profetas bíblicos.

Alguém sempre quer consertar o mundo. Faz parte, acho, do impulso civilizatório, que não é, nem mais nem menos, o uso da inteligência como equipamento de sobrevivência.

Leio Blaise Cendars (“Hollywood”), e ele descreve uns Estados Unidos do início do século XX bem semelhantes ao Brasil do início do século XXI. Quer dizer, semelhantes nos problemas. Este livrinho de Cendars é precioso: nele está registrado, com paternidade e tudo, o início da paixão norte-americana pelas estatísticas.

Só que há um século de diferença. A razão está nos trópicos? Ou na praxis religiosa? Ou na cultura original? Alguns milênios de conhecimento consolidado ainda não foram capazes de decifrar, ou talvez até de mapear, a complexidade da história humana.

Talvez porque a história tem sempre um ponto de vista, que é o do sobrevivente.

Mesmo assim...

Autoridades se reuniram mais uma vez num cemitério em território francês para lembrar que nunca tantos deveram tanto a tão poucos. Este interminável culto aos guerreiros não ameaça o planeta tanto quanto a poluição? Que glória há em destruir?

Que faremos nós – perguntavam-se as autoridades do pós-guerra, na segunda metade do século XX – com estes homens condecorados, mas que só sabem correr riscos e destruir? Que faremos nós com estes milhares e milhares de homens empregados em funções de vigilância e guarda, em todo o Brasil, quando for exigido das mãos deles algo mais que segurar um cassetete ou uma arma de fogo?

Nos pós-guerras do século XX, como ainda hoje ocorre, milhares e milhares de homens se mataram, simplesmente porque a guerra os tornou incapazes de viver em paz.

Violência é violência, tanto faz contra bandido como contra inimigo.

Alguém me diz que está tudo errado.

Não sei se tudo, mas há alguma coisa de muito errado no medo cotidiano. E não será com mais e mais armamentos que se vai resolver este medo.

No entanto...

Há um século, sem dúvida vivia-se pior que hoje. Todos.

Serão os nossos problemas apenas inevitáveis partes deste ciclo? Ou nos parecem maiores porque sabemos mais?

Este drama está na saúde: se as populações inteiras são advertidas que é possível prevenir doenças mediante exames regulares, vão exigir, com toda razão, exames regulares. Se não há como atender à demanda, instala-se uma crise. Mas a civilização não caminha de crise em crise? Mas, e até a crise gerar sua consequência criadora, o que acontece? Ou quando a crise desemboca na aniquilação, como na ilha de Páscoa, cujas estátuas são o que restou de presença humana, e não houve sobreviventes para contar a história?

Recebo abaixo-assinados: pela liberdade religiosa na Birmânia, contra a crueldade com os animais, contra a fome em países miseráveis... e ainda penso que o Brasil poderia fazer muito mais pelo Haiti além de fornecer soldados para as forças de paz. Certo, o engajamento eletrônico talvez dê algum resultado. Faz parte do ciclo, e afinal de contas, ser contra ou a favor sem armas nas mãos é melhor do que atirar granadas.

Faz parte do ciclo também governar com um instituto de pesquisa de opinião emitindo relatórios quase diários. Excesso de democracia, ou simplesmente paz na terra?

Mas a maioria sempre arroz-com-feijão. E aí, o que acontecerá com as idéias de
vanguarda, que permitem traçarem-se estratégias de longo prazo?

Talvez que este seja o perigo real do planeta. Talvez.