quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A garota currada

Eu não queria escrever sobre isso, porque há bastante gente para tanto, e, só hoje, Dora Kramer e Míriam Leitão – principalmente esta - colocam o assunto com firmeza e perspectiva.

Mas há uma coisa me incomodando muito.

É o faz-de-conta do “politicamente correto” com que as autoridades reagem ao assunto.

Faz de conta que a governadora não sabia de que estofo é o seu Delegado Geral, seu amigo pessoal de longa data, seu militante nas lides sindicais, cabo-eleitoral e co-autor do seu programa de governo, área de segurança pública, referência Polícia Civil.

Faz de conta que a governadora não sabe a ineficiência atroz do setor segurança no Pará, em que cada qual faz o que bem entende, onde o rumo se perdeu já faz um tempo, sem programa, sem projeto, sem logística e sem estratégia.

Faz de conta que a governadora não sabe o que significa a quantidade de policiais mortos em serviço, indicador certo de que o caminho operacional está errado – qualquer especialista em segurança pode explicar porque.

Faz de conta que é por falta de dinheiro que acontecem coisas assim.

Faz de conta que o Ministério da Justiça não tem nenhuma responsabilidade sobre o sistema prisional, mesmo se sabendo que é ele que administra todo o dinheiro do sistema, dinheiro oriundo da Loteria Esportiva e contingenciado de forma sistemática nos últimos cinco anos.

(A última ação eficaz no sistema prisional brasileiro ocorreu quando José Serra era Ministro da Saúde e José Gregori, Ministro da Justiça. Eles criaram mecanismos para viabilizar a assistência médica ao preso, via SUS – porque o Sistema Único de Saúde até então ignorava solenemente as casas penais, exceto no Rio de Janeiro – mas esses mecanismos foram totalmente abandonados no governo Lula. Quem teve tempo de implantá-los, avançou; quem não teve ou não pôde, ficou no caminho. E de lá para cá, é só construção de cadeia, mais nada).

Faz de conta que a governadora não sabe, também, que o hospital destinado a assistir os presos (fruto desses mecanismos implantados por Gregori e Serra) continua sem operar completamente.

Faz de conta que quatro milhões de reais para construir presídios isenta o governo federal das responsabilidades que tem.

O manual do político esperto, ou do politicamente correto, manda botar a culpa no governo anterior e entregar a cabeça de quem errou. Manda também desviar a atenção do público, quando a crise é braba. Então vamos negociar a crise com o dinheirinho da União – que, aliás, o Governo Federal tem a obrigação de transferir, visto que ele não constrói presídios e é quem administra o dinheiro para isso - dizer que o Estado estava “um caos”, mesmo contra toda a evidência. Agora, só falta demitir o delegado geral.

E faz de conta que está tudo resolvido.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ana;
Parabéns vc como sempre sabe de tudo eu aguardava esse seu comentário como sempre sábio. Tb sendo redundante gostei muito do Hangar.
Um grande abraço
Rassy

Anônimo disse...

E, como estavas certa, caiu o delegado geral!
bj