quinta-feira, 5 de julho de 2007

Há limites?

Vejo Lula na tevê dizendo que é inadmissível que bandidos tomem conta do morro.

De fato, é inadmissível.

Que dizer, então, de pessoas suspeitas tomarem conta do país inteiro?

Jornalistas têm feito essa afirmação – que é inadmissível que pessoas suspeitas tomem conta do país inteiro.

Um deles disse que toda a verdade já foi descoberta, mas nada acontece. Que o governo é psicopata, e que existe uma quadrilha enfiada no governo.

Vai daí, Lula manda que lhe tirem o programa do ar e o demitam da emissora de rádio.

Como a rainha de copas do livro de Alice: “Cortem-lhe a cabeça!”

Trata-se de Arnaldo Jabor.

De antemão devo dizer que não concordo que um jornalista agrida como agride Jabor – que usa insultos em seus discursos.

Mas os delitos de imprensa são legalmente previstos, e neste momento, deve haver dezenas de milhares de processos contra jornalistas por pessoas que se sentem atingidas.

O próprio Jabor foi processado e condenado por crime de imprensa no seu programa de rádio, do qual foi demitido. Dois processos que resultaram numa conta de 250 mil reais, movidos por deputados que não se acham canalhas, como ele os chamou no rádio.

Mas Lula atira de bazuca no passarinho – manda demitir, tirar o programa do ar. Usa o enorme poder do Estado em proveito próprio, visto que o jornalista não atacou o presidente da República, mas o governante, não atacou a instituição, mas a pessoa que eventualmente ocupa o cargo.

Da mesma forma como Lula vai ao Rio de Janeiro falar contra bandidos.

Depois que essa operação-favela terminar, o que vai acontecer? A polícia vai ficar mandando lá? Teremos um Iraque no morro do Alemão? Forças permanentes de ocupação do morro?

Porque, é óbvio, depois que a polícia sair de lá, outros traficantes vão ocupar a vaga.

Os dois episódios são frutos da mesma árvore. E essa árvore tem seiva de violência. Metralhadoras e granadas (a indústria de armas deve estar rindo), e silêncio forçado para quem achar ruim.

A paz social não pode ser fruto de batalhas de homens mascarados. E os policiais que subiram o morro usam máscaras. Porque? Para matar impunemente? Porque só isso justifica que um policial esconda a cara.

De qualquer forma, a máscara dos policiais é apenas a expressão física da mascarada que este governo impingiu ao país: usa a mesma política que Perón usou na Argentina com os “descamisados”, nas primeiras décadas do século XX e chama isso de distribuição de renda. Compra votos com bolsas, e chama isso de política social.

Criou agora o tal do PAC, pseudo programa de aceleração de crescimento, colcha de retalhos de ações que já existiam, e concentração de dinheiro eleitoreiro.

No fundo, Jabor tem razão: depois de Lula, Garotinho. Com o PAC, há meio bilhão de reais para pavimentar o caminho do ex-governador do Rio de Janeiro rumo ao Planalto: sai Roriz, mas Renan fica. Renam é do PMDB, da ala dos garotos de ouro – ouro de pilhagens, entenda-se.

E Jabor tem razão de novo, quando diz:

“Assim como o stalinismo apagava fotos, reescrevia textos para contestar seus crimes, o governo do Lula está criando uma língua nova, uma neo-língua empobrecedora da ciência política, uma língua esquemática, dualista, maniqueísta, nos preparando para o futuro político simplista que está se consolidando no horizonte. Toda a complexidade rica do país será transformada em uma massa de palavras de ordem, de preconceitos ideológicos movidos a dualismos e oposições, como tendem a fazer o populismo e o simplismo.”

E este é um trecho do discurso que lhe valeu a perda do emprego e do programa...

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara Ana,

aproveito o feriado, e entre outras coisas boas, passeei pelo seu blog. E parei neste post, lendo vagarosamente e saborosamente o que você escreveu.

Detesto Jabor, mas concordo com você. Em gênero, número e bazuca.

Hoje é Dia da Pátria. Essa que você descreve e aquela que queríamos que fosse.

Juntam-se, quem sabe, um dia? No infinito?

Abraço.

Adelina