“O Pará está colapsando”, me diz um médico, que também é administrador hospitalar. Colapsando é uma expressão do jargão dos hospitais. Quer dizer – numa crise que pode paralisar. Ele aponta os sintomas: fornecedores com pagamentos atrasados, gastos desordenados, pouco dinheiro entrando, impasses em problemas sérios por divergências entre dirigentes, falta de soluções. Ele vê o lado de dentro, e ele está assustado.
Eu vejo o lado de fora: há duas semanas que a variedade dos legumes e verduras minguou nos supermercados. Na prateleira onde havia tomates especiais, agora há alface, cujo volume preenche o espaço vazio. O preço do peixe bate recordes; nas gôndolas de carne, retornaram pratinhos com ossos limpos. Ainda há bastante, mas é cada vez mais frequente ter que vistoriar cuidadosamente cebola a cebola, batata a batata, para escapar do estragado. Eu também estou assustada.
É a crise, diz o governo.
Sim, a crise – deveria ser então um governo para enfrentar a crise, não? Afinal, este é o dever dos governos. Até agora, o conjunto de medidas anunciadas contemplou apenas um objetivo: pagar o funcionalismo. Está certo. Mas, e o restante do povo que, aliás, é a maioria? Cadê o arroz tipo 2, cadê o feijão colônia a preços populares? Cadê um mínimo de atenção para o que está acontecendo nas cozinhas?
A crise, no discurso do governo, é apenas uma justificativa. Parece que nos altos escalões ninguém acredita nela. No entanto, senhores, acordem! Ela está aí, bem aí, no fruteiro da esquina que está vendendo um punhado de peras e morangos, em vez das dezenas de mangas, bananas e abacaxis que vendia; no aumento do número de mendigos que disputam lugares sob as marquises – e debaixo de chuva!
Quatro estradas federais foram cortadas pelas chuvas, informam os noticiários, e o abastecimento de Belém – e de muitos municípios que se abastecem em Belém – periga por isso. Sim; mas pelo menos outras quatro estradas estaduais também estão cortadas pela chuva, e a produção rural empacada nelas. Pergunte agora se foi feito algum plano de contingência ou preparação para o período de chuvas, previsto como muito forte pela meteorologia, desde o início do ano passado. Nada.
Além disso, as estradas interditadas não têm nada a ver com os preços crescentes. Não são necessárias estatísticas: basta percorrer os mercados, as feiras e os supermercados. Espertamente, os supermercadistas já anunciam remarcações, por conta das estradas interditadas. E todo mundo sabe que o que sobe, não desce, se o governo não fizer descer.
Alguma medida? não, nada. A burocracia se volta para si mesma e continua comprando crachás, sinalização para prédios, material de expediente, refeições para congressos... tudo isso estava no Diário Oficial de hoje, 6 de maio, ao lado de inúmeras concessões de diárias.
Se o médico estiver certo no seu diagnóstico... não quero nem pensar!
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