“A mídia é afrodisíaca”, disse um dia destes o deputado Jáder Barbalho, que já experimentou mídias de todos os quilates e de todos os matizes.
A frase me veio a cabeça ao acompanhar, como o país todo, aliás, as operações do morro do Alemão, no Rio de Janeiro.
Quem foi o Alemão? Um traficante.
Terra esquisita, em que traficante dá nome a um... bairro? Cidade? Na falta de denominação, chama-se complexo. Geralmente os topônimos surgem em decorrência de homenagens, tradição; no caso, o poderio do Alemão foi tanto que batizou a cidade.
Porque é uma cidade, com 400 mil habitantes, segundo disseram.
Mas, voltando à mídia. As poses para fotos ocuparam boa parte dos espaços. O aparato mobilizado ecoou longe, mas que coisa esquisita: usam-se tanques, geralmente, em guerras. Guerras pressupõem inimigos. Brasileiros, inimigos de brasileiros? Inimigos?
Tem-se falado de “ocupação de território”. Mas o território é Brasil! Ali também tremulam bandeiras verde-amarelas nas grandes festas! Se ao menos dissessem que era uma questão de depor um governo paralelo, estariam mais perto da verdade, e, ainda assim, bem longe dela. Porque o tráfico não governa, nem ocupa territórios. O tráfico ocupa espaços sociais, atualmente transnacionais.
Foram alguns dias de exibição midiática. Se deu certo, o tempo dirá. Espero, sinceramente, que tenha valido a pena, que a espinha dorsal do tráfico no Rio tenha sido quebrada. Falo isso porque o Rio é lindo, e, como qualquer um, eu amo essa cidade.
Mas o saldo da operação até agora é um bocado de sangue derramado e algumas toneladas de droga. Cadê os chefões? Cadê, sobretudo, os protetores dos chefões?
Trinta mulheres exaustas pintaram a cara de branco e tiveram coragem de reclamar, na porta da favela. Porque os dois ou três mil homens mobilizados estão revistando as casas, sem pedir licença. Não interessa quem é quem.
Ao que me conste, na plenitude de um estado de direito, isso se chama invasão de domicílio. Pode-se dizer: eles estão atrás dos bandidos escondidos. Sim, mas quem é bandido e quem não é? Eu me pergunto se ousariam fazer isso em Ipanema. Revistar os apartamentos, um a um, arrombando portas e encostando todo mundo na parede.
Porque não se estabeleceu estado de defesa, previsto na Constituição, para casos como este? O estado de defesa tem regras claras. Os governos, tanto o federal como o estadual, atropelaram a legalidade. Porque? Da mesma forma como se transferiram presos, a medida legal poderia ter sido tomada, da noite para o dia. Não foi. O que se testemunha é o afrodisíaco virando as cabeças. Uma população apanhada de surpresa num fogo cruzado real.
Olho a foto de um pai abraçado ao seu bebê, tentando proteger a criança dos tiros com as próprias costas e com as mãos. Se a criança foi morta, ela é baixa de guerra?
Mas que guerra? De brasileiros ditos bons contra brasileiros ditos maus? E quem é que separa o joio do trigo?
Alguns de vocês que me lêem vão criticar, por certo – afinal, há um delírio afrodisíaco da mídia. Mas o terror do banditismo não justifica o terror das assim chamadas forças de segurança, ocultado pelas explicações sofre o funcionamento de blindados e coisas semelhantes.
Em algum momento os dois ou três mil homens que ocuparam a favela irão para casa. E então, as centenas de traficantes, ou empregados do tráfico, que a televisão mostrou em fuga desabalada, voltarão para casa. Ou irão para outra favela, outra cidade, outro bairro. E o ciclo começará de novo, aqui ou ali...
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5 comentários:
O pior - como dizem por aí - é que você acertou na mosca. E ainda dizem que Deus é brasileiro.
Confesso que, apesar dos pesares, continuo torcendo para a policia nesse episodio, mas fiquei curioso em saber porque os nomes Jader e Alemao cabem no mesmo artigo, que fala de bandido, policia, e trafico. Acho que perdi alguns pontos da conversa sobre afrodisiacos. - Eli
Oi, Ana
O morro chama-se Alemão porque toda aquela área pertencia (antes de virar favela e "complexo") a um alemão. de nascimento.
Abs,
Ângela Câmara
Na realidade, o alemão era polonês...
"Complexo do Alemão é um complexo de favelas da Zona Norte do Rio de Janeiro, constituído por um conjunto de 13 favelas, estando algumas das mais violentas da cidade. O complexo é formado por várias favelas. O núcleo é o morro do alemão. Quanto a origem do nome alemão:
A história do seu nome remonta a década de 20 (Século XX), no período pós-Guerra (I Guerra Mundial), quando um imigrante de origem polonesa, Leonard Kaczmarkiewicz, chegou ao Rio de Janeiro e adquiriu terras na Serra da Misericórdia, que correspondia à região rural da Zona da Leopoldina. Até o final da década de 40, a referida área tinha esta vocação rural.
Devido as suas características físicas, branco e alto, assim como o seu sotaque estrangeiro, os moradores da região passaram a se referir ao proprietário da fazenda, Leonard Kaczmarkiewicz, como o "alemão". E, assim, logo depois, a própria localidade passou a ser denominada de Morro do Alemão".
Wikpedia
Abs,
Ângela
O Repórter Diário de 19.12.2010 noticiou que Vilmos Grunvald assumirá a Cosanpa. Para quem não sabe, este foi o Diretor da Celpa que estruturou todo o processo de privatização da empresa de energia, no Governo Almir.
Como poderia então ser ele o escolhido, se Jatene prometeu em campanha que não privatizaria a Cosanpa?
Como ele poderia comandar o pacto que Jatene tanto fala no âmbito da Cosanpa quando o mesmo tem antigas, inúmeras e intransponíveis divergências com o Sindicato dos Urbanitários que representa a categoria.
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