O professor Paulo Murilo Castro de Oliveira, ou De Oliveira, P.M.C, é desconhecido do grande público. Mas está no cotidiano do grande público mais do que qualquer um poderia imaginar. Fisico, um dos maiores do Brasil, é, no âmbito da formulação que faz funcionar as redes de computadores, aquele sujeito que, quando fala, todo mundo cala a boca para ouvir.
Sua produção científica ultrapassa a centena de artigos e abrange três livros – para falar só do que é mais importante. Então, apesar de desconhecido do grande público, De Oliveira não é, absolutamente, um Zé da Rua.
Numa carta, ele resolveu falar, agora não de física – mas com base num profundo conhecimento das fragilidades e limitações dos sistemas informatizados – mas de educação e de ciência. Seu clamor é pela “desrobotização” do sistema de avaliação das Universidades, implantados pela CAPES – o órgão que controla todo o dinheiro e toda a política de formação de cientistas no país.
Quem se interessar, pode encontrar o teor integral do pronunciamento do professor em http://physicsact.wordpress.com/2007/11/25/fisico-discute-a-ciencia-e-a-pg-no-brasil/. Eu vou apenas transcrever um trecho, porque se trata de uma denúncia muito grave:
“Outro aspecto nocivo dessa competição erroneamente induzida pelas agências de fomento é o aparecimento, com freqüência cada vez maior, de práticas condenáveis que vão desde pequenos deslizes até plágios e fraudes. Alguns desses casos têm se tornado públicos ultimamente, devido à posição de seus personagens. Infelizmente a freqüência de tais faltas é muito maior do que nos faz supor o conhecimento de apenas um ou outro episódio.
Vou citar alguns exemplos, em ordem crescente de gravidade. O líder de um laboratório permite que seu nome seja incluído como autor de todas as publicações daquele laboratório, porque assim vai haver no grupo um pesquisador nível IA do CNPq, exigência de vários programas das agências de fomento, exigência esta baseada na mesma estratégia míope de competição. Outra opção muito difundida é se convidar algum pesquisador IA a emprestar seu nome ao projeto de pesquisa alheio. Há também a chamada corda-de-caranguejo, um pesquisador faz o trabalho de pesquisa, inclui colegas na lista de autores, e com isto recebe regalias da instituição (licenças para viagens, carga horária de aulas reduzida, etc). Há também a manipulação do número de professores do curso de pós-graduação, tira-se fulano e inclui-se sicrano no relatório deste ano. No ano seguinte inverte-se. O curso de graduação da instituição é sempre prejudicado. Trabalhos idênticos ou cópias ligeiramente maquiadas de um mesmo autor ou grupo de autores são submetidos e muitas vezes publicados em diferentes revistas. Autores copiam trechos de publicações alheias, muitas vezes trechos de importância marginal, outras vezes de importância central. Trabalhos inexistentes são colocados na plataforma Lattes, muitas vezes apagados após a avaliação específica do interessado. No nível mais grave vem a leniência das agências de fomento com a ocorrência de tais práticas.”
Isto equivale a dizer que a corrupção está permeando, de forma oficiosa, a área de onde se formam os quadros dirigentes, políticos, econômicos e culturais. Isto equivale dizer que, juntamente com as aulas de história e matemática, os alunos recebem aulas de corrupção – e com a máscara da boa intenção, como é o caso de “garantir verba para o laboratório”, ou “amparar o colega, que passa por uma fase difícil”, ou até ajeitar os crônicos impasses administrativos universitários, do tipo “eu assumo a coordenação, mas vou parar de publicar, vou me prejudicar, vocês têm que me ajudar”.
A carta é tão importante que a denominei de epístola, mas está batendo numa muralha de indiferença, no que chamo a muralha da mediocridade: a Academia simplesmente sepulta, pelo silêncio, o que a incomoda. Não é justo com o cientista De Oliveira, P. M. C, nem com o professor Paulo, que ensina em duas Universidades há 28 anos.
E o que trata é tão sério que interessa a todos nós.
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